Aos 84 anos, Maria da Conceição Gonçalves Camargo caminha a passos sossegados em direção ao salão de festas do Clube São José, em Mogi Mirim. Amante dos bailes, viveu ali momentos que ainda perduram em sua lúcida memória. Hoje, entretanto, a caminhada da porta lateral ao centro do salão tem outro motivo, também acompanhado de músicas e movimento: exercitar-se.
Maria é aluna do Viver Melhor, iniciativa que tem como missão ajudar as pessoas idosas na busca pela autonomia e por uma vida mais saudável. Realizado pelo Instituto Teko Porã, o projeto desembarcou em Mogi Mirim, em 2019, e já está no quarto ciclo. Além do Clube São José, onde Maria frequenta, mais três núcleos estão instalados no município do interior paulista – Acojamba e os ginásios da Vila Dias e do Tucurão.
Há pouco mais de um mês, a rotina de Maria se repete duas vezes por semana, nas manhãs de terças e quintas-feiras. Nas aulas, ela recebe atenção e cuidados enquanto passa pelos quatro momentos em que a atividade é dividida: trabalho neuromotor, força muscular, cardiovascular e flexibilidade, que compõem o Método Águia, estrutura adotada pelo projeto.
No trajeto de onde mora, em uma vila para idosos com vínculos fragilizados, até o Clube São José, Maria revê a própria história. Costureira aposentada, Maria começou na profissão quando tinha só 15 anos, na antiga Fábrica do Simão, famosa em Mogi Mirim. “Adorava costurar”, conta, com sorriso nostálgico.
Foi na vila que Maria soube da existência do projeto Viver Melhor. “Falaram para mim que tinha aula de ginástica e eu gosto, viu? (risos) A van me ajuda a vir aqui, fazer as aulas e fico muito feliz. E eu gosto daqui (Clube São José), lembro dos bailes. Eu sempre fui uma senhora animada (risos). Como sempre fui solteira, vinha aqui, dava uma olhadinha e os moços sorriam para mim também”, brincou.
Maria não se casou. “Eu sempre achei certo primeiro estudar e trabalhar, depois pensar em casamento”, afirma. Ao longo da vida, perdeu uma a uma as pessoas mais importantes com quem dividiu histórias. Primeiro, a mãe. Depois, o pai, de quem fala orgulhosa que era dono de um sítio em Itapira. “A gente gostava muito de mandioca”, diz, enquanto ri. As três irmãs e o irmão também já morreram.
Maria fala da família com doçura, como também fala da própria vida. “Tenho minha casinha, minha roupinha, minha caminha. Vivo bem e faço ginástica para me divertir, é bom, né?”
Além dos benefícios físicos, o Viver Melhor trouxe a ela mais um ganho: a interação social. Maria adora. “Eu gosto de tudo daqui! Converso com as pessoas, gosto de dança, de mexer o corpo para lá e para cá, quero estar aqui. Falar com o moço (Marcelo Hunger, professor do projeto) é bom e eu também me entroso com os senhores e com as senhoras. Eu sempre fui assim, feliz, e é muito gostoso fazer parte disso”, relata, antes de emendar com jeito sutil:
“Graças a Deus, consigo me movimentar. As amigas falavam que eu precisava arrumar um moço (risos), mas eu prefiro fazer minha ginástica, tomar meu cafezinho e ser feliz”, finalizou.